sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Debate sobre situação do idoso reúne vários orgãos

Encontro do NUPVIDA abordou fragilidade e injustiças contra os idosos

      A violência contra o idoso pode ocorrer de diversas maneiras, não necessariamente com a caracterização de agressão física ou verbal. Abandonar, explorar ou submeter a condições impróprias e degradantes são alguns dos exemplos de crueldade moral contra pessoas indefesas e incapazes. Situações como estas foram abordadas durante uma reunião do Núcleo de Prevenção a Violência e Promoção a Saúde (NUPVIDA), da Secretaria de Saúde Pública (Sesap).
      Realizada mensalmente, o encontro aconteceu na semana passada, reunindo diversos órgãos como o Conselho Municipal de Assistência Social, a Secretaria de Promoção Social (Sepros), representantes de casas de repouso e das polícias Civil e Militar, dentre outros. Os dados mais alarmantes foram apresentados pela presidente do Conselho Municipal de Assistência Social, Vânia Gimenez.
      Por dia, o orgão registra uma média de cinco denúncias de maus-tratos contra o idoso, sendo a maior parte cometida dentro de casas de repouso. Por não ter como cuidar do familiar, parentes próximos transferem a responsabilidade aos estabelecimentos. “Não se acompanha o tratamento dado ao familiar. Chegam denúncias de que o idoso é obrigado a tomar banho de madrugada ou ser alimentado todos os dias à base de sopa”, disse.
      O mau uso das mensalidades e o despreparo de funcionários das clínicas de repouso foram alguns dos problemas apontados pelo Conselho, que também lamentou não haver entretenimento nos estabelecimentos para o Idoso. Conforme Vânia Gimenez, existem quatro corais e grupos de dança na Sepros, que podem se apresentar gratuitamente nesses espaços. “Neste ano só recebemos um pedido para apresentação. Não é porque está em um local assim que o idoso precisa morrer para o mundo lá fora. O custo para manter uma pessoa em uma dessas casas é alto e já que estas empresas se dispuseram a atender idosos, precisam fazer como tem que ser feito”, reclamou.
      Golpe - A queixa também é dividida com quem jamais deveria submeter o idoso a situações tão dramáticas: a família. Segundo a representante do Conselho, muitas famílias rejeitam o idoso, sobretudo quando não são mais úteis com suas aposentadorias. “A família enche o coitado de empréstimos e resolve deixá-lo em uma casa de repouso”. Para completar o golpe, Vânia conta que os parentes pagam a primeira mensalidade e não retornam jamais.
      Diante dos olhos indignados dos presentes à reunião, outros casos absurdos foram relatados como de famílias que interditam o idoso para ficar com todos seus rendimentos.
      Em geral, as histórias são apuradas pessoalmente pela assistente social, quando vai à casa da família denunciada. Em uma dessas diligências, Vânia Gimenez se deparou com a triste história de uma idosa vivendo em péssimas condições, embora tivesse uma aposentadoria de R$ 5 mil mensais. “A situação está cada vez pior. Constatamos que, geralmente, as classes mais baixas tratam melhor o idoso que as classes altas”, observa.
      Crime - Também não são poucas as denúncias sobre viciados em drogas que, rejeitados pelos pais, vão morar com avós e os exploram para comprar drogas. Para a delegada da mulher, Rosemar Cardoso Fernandes, as denúncias são inglórias por conta das próprias vítimas. “Muitas apanham e são ameaçadas se não dão dinheiro ao viciado. Quando sofre um mau-trato, o idoso não quer denunciar o neto. Se denuncia, não vai adiante e desiste por vários motivos”, aponta.
      O capitão Heleno Galante, da Polícia Militar, vai adiante com mais crimes cometidos contra idoso, ocasionalmente vítima de estelionato dentro e fora de agências bancárias. A ocorrência de fraude em caixa eletrônico representa quase 80% dos chamados ao 190 envolvendo aposentados. “Por ingenuidade, pedem ajuda nas operações em caixas eletrônicos a pessoas de boa fala e aparência, as quais acabam confiando seus cartões e senhas. Em muitas situações, o problema de visão é que os obrigam a recorrer à ajuda”, considera o oficial.
      O golpe conhecido como bilhete “premiado” continua vitimando quem, apesar da idade avançada, vislumbra a possibilidade de vantagem financeira fácil.
      Outro crime que costuma ser cometido contra o idoso é o do falso sequestro, geralmente articulado por presidiários. O capitão Galante relatou um caso recente em que, graças à perspicácia do caixa de um banco, uma aposentada de 72 anos deixou de sacar R$ 6 mil, valor o qual daria a uma pessoa do lado de fora da agência para a “libertação” da filha, que na verdade estava no trabalho (o “sequestrador” teria ligado e usado uma voz de mulher para simular o sequestro. Como o celular da filha estava fora de área, levou a idosa a acreditar na versão do criminoso). “O caixa não é obrigado a ter muito dinheiro à disposição. Quando observou a atitude nervosa do cliente, decidiu insistir no motivo do saque, descobrindo que se tratava de um golpe em andamento, que felizmente foi evitado”.
      Comentar a vida na fila dos bancos, revelando particularidades como com quem mora, o valor da aposentadoria e o dia em que vai receber faz do idoso um alvo fácil para os bandidos. O capital Galante sugere que os aposentados nunca saquem grande soma em dinheiro para não serem apanhados nas corriqueiras “saidinhas de banco”.
      Abandono - Não bastasse a variedade de infortúnios a que está à mercê, o homem de terceira idade costuma cair em armadilhas de mulheres mais novas, que se candidatam a “esposas” para ter acesso aos bens e recursos dos aposentados. O problema também foi levantado nas discussões pelos presentes ao encontro.
      O ato de abandonar o idoso à própria sorte, lamentavelmente, vem dos familiares, que podem ser punidos pelo crime de maus tratos ou abandono de incapaz. Segundo dados do Conselho Municipal de Assistência Social, a maior parte dos idosos acolhidos no Lar São Francisco de Assis são abandonados pelos familiares. E o número de pedido de “internação” na unidade aumenta todo mês. Atualmente, existem quase 80 pessoas aguardando por uma vaga, que em geral é solicitada por filhos ou parentes próximos.
      Para o chefe do Departamento de Vigilância em Saúde, Luiz Marono, o cuidado com o idoso deve ser redobrado porque, além da fragilidade emocional, há a questão física. Conforme apurou o médico, há uma grande incidência de morte de idosos causada por queda com fratura de fêmur. “A queda acidental pode ser motivada por um objeto deixado em local impróprio ou em um tapete, também por pouca iluminação e até no simples ato de levantar”, salientou.
      Por conta disso, há um projeto que visa à conscientização de cuidadores e familiares na atenção às carências do idoso. Melhorar a acessibilidade e aumentar as vistorias nas casas de repouso para fiscalizar as instalações e número de funcionários fazem parte do conjunto de ações, que devem ser intensificadas no ano que vem.
      Respeito - O debate sobre a situação do idoso incluiu ainda pareceres da chefe da Divisão de Vigilância Sanitária, Yara Lúcia Rousseng, e da nutricionista especializada em segurança alimentar, Maria Cristina de Freitas Souza. Ambas abordaram a necessidade da melhoria do atendimento nos estabelecimentos que acolhem o idoso.
      Para resguardar a qualidade de vida de homens e mulheres com mais de 60 anos, a Prefeitura de Praia Grande oferece inúmeras atividades e oportunidades de integração social aos idosos. Aulas de artesanato, jogos de mesa e até vôlei adaptado, além de passeios, caminhadas, ginástica e muitos outros serviços são prestados pela Sepros e Sesap em sedes do Conviver e nas Usafas.
      Mas para que se faça valer efetivamente o respeito ao idoso é preciso que haja mudanças significativas de mentalidade, com ampla conscientização em segmentos da sociedade como igrejas, clubes de servir e demais organizações. É preciso também haver mais empenho dos orgãos incumbidos de fiscalizar e punir, para que algum dia a realidade não seja tão drástica com cidadãos que deram de si e continuam contribuindo civilmente com suas obrigações.
      Para denunciar um mau-trato ou abandono de idoso ou incapaz pode-se ligar para a Polícia Militar (190), para a Delegacia da Mulher (3471-8000) ou para os conselhos Municipal do Idoso (3496-5058) ou de Assistência Social (3496-5001).
         

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